sexta-feira, junho 02, 2006

Um prêmio inusitado


A Brasília, que não é amarela, mas faz tanto sucesso em Meleiro quanto aquela. Padre Heriberto a dirigiu até os 93 anos

Por LAURA MEZARI
De Meleiro

O bingo promovido pela Paróquia Nossa Senhora da Glória de Meleiro. poderia ter sido uma promoção como outra qualquer, a não ser por um detalhe: o primeiro prêmio foi um veículo Brasília, do ano de 1978. E foi o prêmio que atraiu o público para o evento que foi realizado no salão paroquial da cidade na última sexta-feira (26/5).
O padre Aguinaldo Zuchinalli, que está na paróquia há 1 ano e 5 meses, contou a história do carro-relíquia. O veículo pertencia ao padre Heriberto Borguet, que faleceu em 25 de fevereiro de 2002, aos 93 anos. Estava aposentado, mas até que a saúde permitiu, prestou serviços à paróquia. Quando jovem, antes de iniciar os estudos, padre Heriberto tocava gaita nos bailes e assim, juntou dinheiro e comprou algumas terras.
- Mais tarde ele vendeu a gaita, as terras e um cavalo para entrar no seminário e virar padre - disse padre Aguinaldo.
Foi quando estava a serviço na comunidade de São Francisco, município de Nova Veneza, que a Brasília entrou na vida de padre Heriberto. Ela foi doada por três famílias locais. Depois de São Francisco, padre Heriberto serviu à igreja do município de Ermo, vindo em seguida para Meleiro, onde ficou até seu falecimento.
Padre Aguinaldo contou algumas passagens curiosas da vida do velho padre.
- Ele era conhecido como o padre ‘soja’. Cuidava muito da sua alimentação e incentivava as outras pessoas a consumirem produtos naturais, pois acreditava ser fator essencial para uma vida longa e saudável. Desde jovem, sua saúde era muito frágil, mas padre Heriberto viveu até os 93 anos e a comunidade acredita que os cuidados com a alimentação adotados pelo mesmo influenciaram nisso.
Outro fato curioso foi um prêmio que ele ganhou ao conseguir a maior colheita de milho em um menor espaço de terra: um trator, que depois acabou vendendo para construir sua residência em Meleiro.
- Ele precisava de uma casa para morar, pois sempre recebia muitas visitas - explicou padre Aguinaldo.
- A competição aconteceu ainda quando o padre estava em São Francisco, por volta dos anos 70 - conta Ladi Ugioni Presa, filha de Líbero Ugioni, morador da comunidade, que cedeu as terras ao padre, para que ele fizesse uso de acordo com sua vontade. Ela não se recorda da extensão da terra, nem da quantidade colhida pelo padre, mas o fato é que ele foi o vencedor.
O falecido padre foi um grande incentivador da Pastoral da Saúde na paróquia. A comunidade o lembra com muita saudade, pois era uma pessoa muito carinhosa, querida e atenciosa.
Por esse motivo, o veículo do padre, que ficou para a paróquia após o seu falecimento, era muito cobiçado. Todos queriam comprá-lo, devido ao seu valor afetivo.
- As pessoas associam o veículo à imagem do padre. Para não contrariar ninguém, a paróquia decidiu colocá-lo como prêmio no bingo promovido com o objetivo de arrecadar fundos para a reforma do centro Pastoral, onde acontecem as aulas de catequese, cursos e formação de lideranças.
Segundo Lírio Dal Molin, integrante da Comissão Pastoral, foram vendidos cerca de mil bilhetes, ao custo de dez reais cada um.
- Além da Brasília, havia mais nove prêmios, como televisão, bicicleta e telefone celular - diz.
Padre Aguinaldo declarou que o evento foi um sucesso e atribui isso ao carisma do antigo padre.
- Não esperávamos que a comunidade tivesse uma presença tão expressiva. Nós, da organização estamos muito felizes, pois nossos objetivos foram alcançados. As pessoas compravam os bilhetes e declaravam que queriam ajudar a igreja - mas também queriam ganhar o primeiro prêmio. Durante o sorteio, todos, desde crianças até os mais velhos, torciam para serem contemplados com a Brasília do padre.
Mas como o ganhador só pode ser um, o felizardo, agora dono da tão disputada Brasília, é Douglas Milioli, de 12 anos. Por ironia ele não poderá dirigir o veículo até completar 18 anos. Perguntado sobre o que ele fará com o prêmio, falou que ainda não sabe, porque é um prêmio que tem um valor sentimental muito grande e é difícil colocar um preço.
- Por enquanto, ficará muito bem guardada.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a reportagem. O texto está legal, gostei da história. Já ouvi falar do padre e ele ficou na história, hein!!

Anônimo disse...

fran Mezzari

oi Laura, conheço está história. equem nça a conhece aqui em Meleiro né!
adorei como você escreu.

beijos