segunda-feira, junho 05, 2006

Medo entre taxistas de Araranguá

Por JOAQUIM SANTOS
De Araranguá

Sempre prontos para atender a um chamado, os taxistas deslocam-se a qualquer dia e hora aos lugares mais distantes. Transportam em seus veículos, pessoas desconhecidas e muitas vezes perigosas. E em um desses chamados, mais precisamente na noite do último dia 29 de abril em Araranguá, foi assassinado de forma brutal o taxista Oracides Feltrin, 61 anos, mais conhecido como “Rachide”. Ele foi morto a golpes de pedra e em seguida teve seu corpo queimado por dois passageiros, naturais do Paraná, detidos duas horas após cometerem o crime.
O fato ocorrido deixou todos os taxistas da cidade apreensivos. Jorge Machado Godinho, 47 anos, que está há 18 na profissão e trabalha no Ponto do bairro Cidade Alta, diz que o nervosismo aumentou nos últimos tempos.
- Tenho vontade de abandonar de vez a profissão, pois cada vez que saio para fazer uma corrida, meu coração dispara, é a minha vida que está em jogo - comentou.
Ele reforçou ainda que o seu medo aumenta muito mais quando tem que fazer seu trabalho à noite.
- Nos próximos seis meses eu creio que será mais difícil fazer a chamada corrida noturna, pois este acontecimento é muito recente ainda, e isso mexe muito com a questão psicológica, não só minha, mas de todos os meus colegas - disse.
Com o crescimento da população, a violência na cidade tende a crescer, como acontece em todo o Brasil. Rachide sente que este problema está aumentando.
- Há uns 15 anos, fazíamos nossas corridas sem problema algum, hoje vivemos com receio, temendo sempre o pior. Araranguá é um bom lugar para viver, porém já não é mais a mesma - falou.
Nas chamadas noturnas é que a preocupação toma conta, não só destes profissionais, mas também de seus familiares. Vilmar Bresser Gonçalves, 53 anos, disse que sua esposa não consegue dormir ao pensar que ele está sujeito a sofrer alguma agressão, mesmo sabendo da experiência do marido que está há 25 anos no ramo.
- Ela reza para que nada de mal aconteça comigo novamente, já que no ano passado sofri um assalto. Antes mesmo de eles entrarem no carro, senti que estavam com más intenções, porém eu não tinha certeza, por isso não podia voltar atrás. Renderam-me com uma arma de fogo, colocaram-me para fora do veículo e golpearam minha cabeça violentamente até que desmaiei, quando acordei, não mais os vi e fiquei desesperado, sozinho em um local completamente deserto, foi horrível - falou.
Gonçalves era amigo do taxista assassinado e conta que quando recebeu a notícia pela manhã, achou tratar-se de uma brincadeira de mal gosto.
- Na hora não acreditei, pois na noite do crime estivemos juntos, de plantão aqui no Ponto. Para mim foi um choque, tínhamos uma amizade de longa data e eu não poderia jamais imaginar que horas depois ele seria morto da forma covarde, como foi - salientou.
O mais jovem taxista do local, Vanderlei Silveira Triches, 23 anos, tem pouco tempo de serviço e já pensa em trocar de profissão.
- É duro você trabalhar pensando na possibilidade de sair de casa e não voltar mais, sofrer uma violência tão grande, ou mesmo ser morto, como aconteceu mês passado com o nosso colega. Medo é palavra que mais se encaixa no nosso cotidiano - disse.
Hoje, Araranguá possui 27 pontos de táxi espalhados pelos bairros e a maioria dos veículos não possui nenhum sistema de blindagem ou segurança eficaz contra assaltos ou atentados semelhantes, o que faz aumentar ainda mais a desconfiança e o medo entre os taxistas.

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